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Empresas ampliam defasagem salarial de novos contratados

A proporção da remuneração dos admitidos em relação a dos demitidos, que era de 93% em janeiro, recuou para 87% no mês seguinte

Encontrar trabalhadores no mercado formal dispostos a receber salários inferiores aos de quem foi desligado se tornou uma missão mais fácil este ano para as empresas. A proporção da remuneração dos admitidos em relação a dos demitidos, que era de 93% em janeiro, recuou para 87% no mês seguinte e tem se mantido próxima a esse patamar desde então, mesmo percentual registrado em agosto. Os cálculos foram feitos pela MB Associados, a pedido do  com base no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

Considerando a média dos últimos 12 meses - medida que o economista-chefe da MB, Sergio Vale, considera mais correta, uma vez que o dado mensal é muito volátil - o salário dos recém-contratados com carteira assinada também equivalia a 87% da remuneração dos demitidos em agosto.

Esse movimento tem ocorrido principalmente na indústria, setor em que um recém-admitido no mercado formal recebe, em média, 81% de quanto ganhava um trabalhador desligado, também considerando a média dos 12 meses encerrados em agosto. "A indústria é o setor que se ajusta mais rapidamente. Com a capacidade ociosa elevada, consegue ampliar a produção num cenário de melhora fazendo poucas novas contratações", observa Fabio Romão, economista da LCA Consultores.

Entre o fim de 2011 e início de 2012, pico da série calculada pela consultoria, um recém-admitido no mercado formal entrava ganhando, em média, 94% do valor pago a um funcionário desligado. Naquele período, o mercado de trabalho mais apertado, com pouca oferta de mão de obra e desemprego baixo, ainda favorecia a contratação de pessoas com pouca experiência ganhando salários mais elevados.

Segundo Vale, a recessão aprofundou a diferença de salários entre demitidos e admitidos. Esse processo, em sua avaliação, está "retirando renda da economia", apesar da alta no rendimento real dos ocupados provocada sobretudo pela desaceleração da inflação.

"A observação do mercado formal de emprego leva a entender porque o crédito ao consumidor também se recupera a passos de tartaruga. Dependente das garantias que apenas o emprego formal em geral dá, empregos com salários menores levam a menor crescimento da demanda por bens e serviços e, consequentemente, do crédito para comprá-los", afirma Vale, para quem a menor remuneração dos salários de admitidos deve moderar o ritmo de recuperação do consumo das famílias.

Estruturalmente, os salários de admissão já são menores, observa Romão, porque a remuneração daqueles que estão no primeiro emprego puxa a renda dessa categoria para baixo, mas a distância em relação à remuneração dos desligados aumenta ainda mais em períodos recessivos. "As chances de se reinserir no mercado de trabalho são menores, e as pessoas aceitam receber menos", diz.

A legislação brasileira impõe travas à redução de salários e, por isso, o ajuste das empresas acaba acontecendo mais pelo lado da ocupação, comenta Romão. Por isso, é de se esperar que, quando o mercado de trabalho fica menos aquecido as companhias acabem demitindo funcionários com remuneração mais elevada e contratando pessoas com menos experiência e salários menores.

Diretor do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clemente Ganz Lúcio aponta que parte significativa do aumento de desemprego ocorreu entre homens chefes de família, o que elevou a disparidade entre os salários de demitidos e admitidos. Segundo microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, 1,6 milhões de chefes de família perderam seus empregos desde o fim de 2014.

"Isso significa menor capacidade de consumo interno", diz Ganz Lúcio, que destaca, ainda, o aumento da informalidade. Também de acordo com a Pnad, no trimestre encerrado em agosto, havia 10,7 milhões de trabalhadores sem carteira no setor privado, alta de 5,4% em relação a igual período de 2016. "Parte da força de trabalho está conseguindo se recolocar, mas com salários menores", o que também é prejudicial ao consumo, diz.

Para Tiago Cabral Barreira, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV) a recuperação em curso no mercado de trabalho ainda não é forte o suficiente para puxar para cima a remuneração dos admitidos. "Os rendimentos com carteira assinada tendem a crescer mais devagar", afirma, devido ao maior contingente de pessoas buscando uma vaga e, também, à menor inflação, que é um farol para grande parte das correções na parte formal do mercado.

Por isso, diz, a tendência é que a distância entre os salários de admitidos e desligados siga maior, mesmo com a retomada das contratações observada nos últimos cinco meses. "Com uma grande massa de pessoas procurando emprego, cresce a disposição em aceitar salários menores", avalia o pesquisador.

Fonte: Jornal Valor

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