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JUVENTUDE - 5,3 milhões de jovens não estudam, nem trabalham

Em meio à escassez de mão de obra qualificada, contingente de jovens que não estudam nem trabalham aumentou entre 2000 e 2010. Quase 20% estão nessa situação

Ao mesmo tempo em que atinge níveis historicamente baixos de desemprego e sofre com a escassez de mão de obra qualificada em alguns setores, o Brasil “desperdiça” um de cada cinco jovens adultos. Pouco mais de 5,3 milhões de pessoas com idade entre 18 e 25 anos, o equivalente a 19,5% dos brasileiros dessa faixa etária, não estão estudando nem trabalhando e tampouco procurando emprego, segundo dados do Censo 2010. São pessoas que mal entraram na idade produtiva e já são enquadradas como “não economicamente ativas”.

Era de se esperar que, com o crescimento do mercado de trabalho e alguns avanços na educação, o quadro tivesse melhorado desde o censo anterior, de 2000. Mas ocorreu o oposto. O contingente de jovens que não estudam nem trabalham até aumentou: em 2000 eles eram 4,8 milhões, ou 18,2% do total, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 “Estamos desperdiçando parte de uma geração, que vai demorar muito a encontrar um lugar ‘virtuoso’ no mercado de trabalho”, diz Adalberto Cardoso, professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Iesp/Uerj). “Mais adiante alguns vão voltar a estudar e tentar tirar o atraso, mas então encontrarão novas gerações mais escolarizadas e qualificadas, dificultando sua competição.”

A chamada “geração nem-nem” tem crescido na Europa assolada pela crise. Mas por que existem tantas pessoas nessa situação no Brasil? Há as que estão à toa por que querem, acomodadas com alguma fonte segura e não muito exigente de sustento – os pais, por exemplo. Mas trata-se de uma minoria. Na maior parte dos casos, diz Cardoso, os brasileiros “nem-nem” são pobres e têm baixa escolaridade. E, no caso das mulheres, filhos para cuidar.

“Dois terços desses jovens são mulheres, e metade delas tem filho vivo, nem sempre fruto de casamento. Dos homens, uma pequena parte, perto de 10%, tem deficiência física ou mental grave. Cerca de 70% dessas pessoas vivem em famílias que estão entre as 40% mais pobres, e 50% dos homens e 40% das mulheres não completaram nem o ensino fundamental”, enumera o pesquisador.

Aprendizado deficiente

Para Priscila Cruz, diretora-executiva da organização Todos pela Educação, os problemas começam pelo baixo nível de aprendizado dos estudantes. Avaliações mostram que, em português e matemática, menos de 35% aprendem o mínimo esperado. “O jovem não aprende, repete de ano, e a repetência é o primeiro indício de que ele pode abandonar a escola. E, depois que abandona, tem dificuldade para se inserir no mercado”, explica.

Visto como distante da realidade dos alunos, o currículo do ensino básico é outro desestímulo. Há disciplinas em excesso, várias delas abstratas demais para quem mal consegue interpretar um texto, e pouco úteis para quem precisa arrumar logo um emprego. “É preciso oferecer uma opção de ensino médio profissionalizante, que deixe o jovem apto a algum serviço já aos 18 ou 19 anos. Nem todos podem esperar pela faculdade”, diz Priscila.

Quem deixa a escola e não arruma trabalho pode acabar recorrendo a bicos ou algo pior, avalia Amilton Moretto, do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho (Cesit) da Unicamp. “Se não criarmos condições para que o jovem tenha a expectativa de conseguir um emprego, uma perspectiva de futuro, corremos o risco de perdê-lo para a marginalidade.”

País não aproveita “bônus demográfico”

O Brasil atravessa desde a década de 1960 um período que estudiosos chamam de “bônus demográfico”, em que a população com idade entre 15 e 64 anos aumenta em relação à população total – ou seja, a quantidade de pessoas em idade produtiva cresce mais rápido que o número de crianças, adolescentes e idosos. Assim, há uma certa abundância de mão de obra e, com mais pessoas produzindo, também pode haver mais geração de riqueza.

No entanto, o elevado número de jovens desempregados e fora da escola ou da faculdade mostra que o país não está aproveitando bem esse bônus. E não terá muito tempo para isso: com a queda na taxa de natalidade e o envelhecimento da população, o bônus demográfico deve acabar por volta de 2020, segundo cálculos dos pesquisadores João Basílio Pereima, Fernando Motta Corrêa e Alexandre Porsse, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Por um lado, isso será bom. A oferta de jovens trabalhadores vai diminuir, o que deve elevar os salários e melhorar a distribuição de renda. Aliás, há quem desconfie que a persistência de baixas taxas de desemprego e o aumento dos rendimentos em plena estagnação econômica já seja reflexo de uma estabilização ou mesmo queda na entrada de novos profissionais.

Por outro lado, se não houver um aumento da inovação tecnológica e da produtividade, os custos das empresas tendem a aumentar quando o bônus demográfico acabar – o que pode resultar em coisas como inflação e recessão. Portanto, sem jovens criativos e bem formados, o crescimento econômico do país estará ameaçado.

Políticas

“Se um país aproveita seu bônus demográfico com políticas adequadas, pode emergir ao fim do processo com enormes avanços econômicos e sociais”, afirmam os pesquisadores da UFPR, em artigo publicado no mês passado. O problema, dizem, é que o Brasil tem sido relapso: “As políticas educacionais não estão dando conta de formar pessoas qualificadas na velocidade e quantidade necessárias no nível técnico. E o quadro é mais grave ainda no nível universitário e de pós-graduação.”

Ocupação

Curso de qualificação ajuda jovem a encontrar trabalho
Durou pouco tempo a “folga” de Douglas Maicon Ferla, 19 anos. Dois meses depois de deixar o emprego no almoxarifado de uma fábrica de autopeças, onde o pó vinha agravando sua rinite, ele está de volta ao trabalho e às aulas. Passa o dia todo ocupado: estuda pela manhã e trabalha até à noite.

Enquanto esteve desempregado, ele fez um curso de manipulação de alimentos no Senai. No fim de setembro, conseguiu uma vaga de auxiliar de produção na fábrica de chocolates da Kraft, quase ao mesmo tempo em que começou a frequentar um curso gratuito de mecânica na ONG Rede Esperança. “Estou fazendo o curso por vontade própria”, conta Douglas, que tem ensino médio completo. “No futuro quero trabalhar com mecânica industrial, na própria Kraft ou em outra empresa.”

A coordenadora de intermediação de mão de obra da Secretaria Estadual do Trabalho, Angela Carstens, conta que a maioria dos programas públicos voltados ao emprego juvenil contempla a questão da educação. “O Jovem Aprendiz, por exemplo, passou a exigir que o jovem faça 80 horas de curso técnico para poder ser encaminhado à empresa. Dá mais resultado que encaminhá-lo sem qualificação”, diz. (FJ

Índice piorou no Norte, Nordeste e Sudeste
O crescimento da proporção de jovens brasileiros fora da escola e do mercado de trabalho entre 2000 e 2010 foi puxado pelas regiões Norte, Nordeste e Sudeste do país. No Sul e no Centro-Oeste, o índice “nem-nem” diminuiu entre os dois censos.

No Paraná, o número de jovens nessa situação caiu de 235 mil (16,5% da população com 18 a 25 anos) em 2000 para 208 mil (14,5% do total) em 2010. O índice paranaense é o quarto mais baixo do país, mas ainda é o pior da Região Sul – no Rio Grande do Sul a taxa caiu de 13,8% para 13,3% e em Santa Catarina, de 13,9% para 10,7%.

De forma geral, quanto mais pobre é o estado, maior tende a ser a população “nem-nem”. Alagoas e Maranhão, que segundo dados de 2009 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) figuram entre os três estados com a maior proporção de famílias pobres (47,7% e 41,6%, respectivamente), também têm os piores índices “nem-nem” do país (28% e 29,2%). No outro extremo da tabela, Santa Catarina ostenta o mais baixo índice de pobreza (6,4%) e a menor proporção de jovens que não estudam nem trabalham. (FJ)



Fonte: Gazeta do Povo






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