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OS IMPACTOS DA INDÚSTRIA 4.0 NO MUNDO DO TRABALHO

A Indústria 4.0, chamada de 4ª Revolução Industrial e Manufatura Avançada, tem definido um sistema de produção capaz de aumentar a produtividade por intermédio da integração de robôs e sistemas de Tecnologia da Informação e Comunicações.

Quem fala sobre este tema ao Observatório Metalúrgico da CNTM é Roberto Anacleto, 42 anos, assessor técnico do Dieese, da subseção da CNTM (Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos/Força Sindical), com formação em Administração e pós-graduação em Economia do Trabalho e mestrando em Políticas Públicas.

Quando surgiu a Indústria 4.0 e o que vem a ser este sistema?

Roberto Anacleto – O termo foi usado pela primeira vez em 2011, em uma Feira Industrial de Hannover, na Alemanha. No ano seguinte, empresas alemãs (Working Group on Industry 4.0) apresentaram ao governo alemão um conjunto de recomendações para implementação desta Indústria 4.0. Na agenda do governo brasileiro, este tema apareceu somente em 2017. A visão da indústria é que em um futuro próximo as fábricas inteligentes usem tecnologias de informação e comunicação para digitalizar os processos industriais em direção a níveis inimagináveis de eficiência, qualidade e “customização”. Este novo modelo de organização da produção amplia a capacidade de interação M2M (máquina-máquina) sem a intervenção humana.

Que setores econômicos no Brasil já a adotam?

Roberto Anacleto – Os setores de agronegócio, financeiro (bancos, seguradoras, etc.), comércio varejista (supermercados e lojas) e saúde já apresentam projetos bem estruturados de implantação de empregos digitais. As montadoras também estão em processo avançado de implantação da Indústria 4.0 no Brasil.

Ela vai desempregar muita gente?

Roberto Anacleto – Em um primeiro estágio não, mas a tendência é reduzir ou até eliminar algumas profissões. Portanto, poderemos sim ver o aumento do desemprego com o avanço da ampliação do emprego tecnológico. Outras vagas e novas profissões surgirão, mas não serão capazes de gerar postos de trabalho em uma grande escala como no passado. Um exemplo simples são os cortadores de cana. Atualmente as colheitadeiras de cana-de-açúcar, que estão a cada dia mais modernas, realizam praticamente toda a colheita sem intervenção humana e também fazem a colheita em terrenos acidentados, o que não era possível anteriormente. Os trens da linha amarela do metrô em São Paulo não possuem condutores, são gerenciados a partir de uma sala de operações com controles eletrônicos. Os bancos já podem estar dentro dos celulares e quem adota este sistema on-line quase não vai mais à agência bancária. Recentemente, alguns governos estão propondo a criação de tributo sobre os robôs (empresas que usarem robôs terão de pagar taxas sobre as rendas atribuídas ao uso da robótica).

Que tipo de trabalho humano deixará de existir?

Roberto Anacleto – Na verdade, ainda é muito cedo para afirmar que profissões deixarão de existir, mas podemos afirmar que algumas já estão bem próximas de terem suas funções reduzidas: bancários, caixas de supermercados, telefonistas, motoristas, operadores de máquinas, corretores de seguros e cortadores de cana-de-açúcar, por exemplo. Porém é necessário fazer alguns estudos mais aprofundados para analisar qual será o impacto para os trabalhadores destas profissões. Alguns sindicatos e confederações de trabalhadoras, como a CNTM (Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos/Força Sindical), buscam intensificar os debates na construção de propostas para o enfrentamento dos impactos negativos da Indústria 4.0.

Existem situações reconhecidamente positivas nesta Indústria 4.0?

Roberto Anacleto – Alguns defendem que o uso da tecnologia pode reduzir o esforço humano e os acidentes e mortes decorrentes de processos precários em alguns postos de trabalho, ajudando assim na melhoria da saúde e segurança do trabalhador. O trabalho do cortador de cana-de-açúcar é um bom exemplo para conversarmos. É um trabalho altamente precário e portando prejudicial à saúde e à qualidade de vida do trabalhador.

Agora o que precisamos debater é o que será feito para que este trabalhador, muitas vezes com pouca ou nenhuma especialização profissional, se “enquadre” positivamente na proposta da Indústria 4.0. Devemos lutar para que trabalhador, com maior nível de especialização, tenha uma melhor remuneração. Outros temas que a Indústria 4.0 pode fomentar no nosso meio são o surgimento de novas profissões, a redução da jornada de trabalho, o desenvolvimento de novos mercados e a participação direta das demandas de clientes e a personalização de produtos e serviços.

Qual deve ser o papel do movimento sindical com relação a este tema, a esta realidade?

Roberto Anacleto – O movimento sindical já vem debatendo e construindo uma agenda para elaboração de propostas e ações sobre os impactos da Indústria 4.0. A direção e equipe técnica da CNTM/FS, junto às demais entidades sindicais, têm participado exaustivamente de fóruns, seminários e palestras nacionais e internacionais sobre o tema. Recentemente, em reunião do Comitê Brasileiro da IndustriAll, na sede da Força Sindical, um dos assuntos tratados como prioridade foi justamente este. O Dieese também está internamente construindo algumas propostas e ações que poderão ajudar o movimento sindical a se adequar aos desafios impostos pela modernização tecnológica.

O que o empresariado e as universidades podem fazer para colaborar com a qualificação da classe trabalhadora neste novo mundo?

Roberto Anacleto – Ainda há uma grande distância entre as universidades e institutos de ensino e pesquisa e o setor produtivo nacional. Ambos não conseguem conversar direito. É lógico que as instituições de ensino e pesquisa gerenciadas pelo Sistema “S” têm outra postura. Mas as universidades públicas e privadas pouco dialogam no sentido de construir ações conjuntas e coordenadas. O movimento sindical poderia ocupar o papel de grande articulador entre empresas e universidades. Pois o movimento sindical tem em mãos um importante diagnóstico da situação atual dos trabalhadores brasileiros.

Fonte: Val Gomes/Redação CNTM – Observatório Metalúrgico

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