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Brasileiro dorme cada vez pior, aponta pesquisa. Sono piora ainda mais com passar da idade

Uma noite bem dormida é um sonho cada vez mais distante de parcela considerável dos brasileiros que chegaram aos 60 anos, mostra pesquisa feita pelo Datafolha.

 

A situação é ainda pior porque a parcela de idosos que atribui bom ou ótimo ao sono decresceu consideravelmente em dez anos: de 68%, em 2008, para 54% em 2017.

"A vida cada vez mais complexa e o aumento de atividades e estímulos estão por trás dessa piora", diz a especialista em sono Dalva Poyares, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Ela diz que o fenômeno é detectado em todas as faixas etárias de forma persistente desde 1987. "Há cada vez mais oferta de serviços, mais contas a pagar, mais estímulos, contatos, mais vida 24h/dia."

Crise socioeconômica, aumento do desemprego e medo de assalto também estão na raiz da piora, diz a pesquisadora do Instituto do Sono Helena Hachul, professora de psicobiologia da Unifesp.

"O aumento de estresse leva à liberação de cortisol, mantendo um estado de alerta constante. Ninguém consegue dormir com medo."

Hachul também aponta que, com o envelhecimento da população, muitos idosos tornam-se cuidadores dos pais, ainda mais idosos. "De forma frequente vemos um idoso de 75 anos cuidando dos pais com 95 anos, algumas vezes acamados."

E existem fatores biológicos e comportamentais que vêm com o envelhecimento. Funções vão se deteriorando, como a capacidade respiratória, e isso atrapalha o sono, afirma o médico John Araujo, professor titular de Cronobiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

A capacidade muscular é reduzida (o que leva ao ronco) e nossa capacidade de armazenar urina na bexiga se reduz. Levantar no meio da noite para fazer xixi é um dos principais motivos de sono insatisfatório, segundo Poyares.

Outro fator físico está ligado ao relógio biológico, cujo funcionamento é fundamental para a regulação do ciclo de sono e vigília, dizem Poyares e Araujo. Alguns idosos, por problemas oculares, perdem a capacidade de detectar luz, o que dificulta a sincronia desse ritmo biológico com a natureza.

POBREZA E SONO

A pesquisa Datafolha mostrou uma correlação entre nível socioeconômico e qualidade de sono. O descanso é melhor para quem tem curso superior e para os mais ricos, seja no total da população, seja entre os idosos.

"A qualidade do sono depende claramente da qualidade de vida. O ambiente de dormir precisa ser confortável, com pouco ruido e ter uma temperatura agradável", relata Araujo.

Outro aspecto é o tempo de deslocamento entre a casa e o trabalho. "Quem tem menor renda precisa acordar cedo, reduzindo a quantidade de horas de sono."

Os de menor escolaridade também são a maioria entre os trabalhadores noturnos ou os que trabalham em turno.

"A melhoria na qualidade de transporte público e habitações populares melhoraria muito o sono da população de menor nível socioeconômico", diz Araujo.

O médico da UFRN diz ainda que essa parcela da população é duplamente prejudicada, porque a pior qualidade de sono reduz a eficiência no trabalho e na escola.

Hachul acrescenta que dormir mal provoca no dia seguinte irritabilidade, déficit de memória, atenção e até diminuição de imunidade. "Não havendo restauração física adequada, a pessoa sente-se indisposta para suas atividades habituais."
distúrbios

O otorrinolaringologista e professor da Unicamp Edilson Zancanella, que pesquisa qualidade do sono, diz que identificar distúrbios é muito importante, porque são fatores de risco extremamente significativos para outras doenças.

Mas nem sempre é fácil, segundo ele, quando o caso não é insônia. "Quem tem apneia dorme em qualquer lugar, dorme no volante, está cansado, perto da exaustão, mas não te conta isso com a intensidade de quem tem insônia."

Segundo ele, quem sente problemas ao dormir deve procurar um especialista: sono é área médica reconhecida desde 2011. Poyares afirma que idosos que dormem mal têm maior risco de mortalidade. "O idoso tende a ter mais doenças e, se dorme mal, elas pioram. Se você tratar as doenças de base e as de sono, otimiza a qualidade de vida de forma global."

O uso de medicamentos para dormir é recomendado apenas em casos especiais, porque pode agravar a saúde em geral. A médica da Unifesp afirma que há hoje terapias que mudam os comportamentos negativos em relação ao sono e reduzem o medo de não dormir e a tensão.
mulheres

"Todas as minhas amigas dizem o mesmo: os maridos dormem bem, mas elas não. Nós temos mais preocupações, e a cabeça fica trabalhando."

A observação da aposentada Nilza Fontanez Soares, 60, é confirmada pelo Datafolha: as queixas femininas de sono ruim ou péssimo são 50% maiores que a dos homens no geral, e chegam ao dobro entre os com 60 anos ou mais.

Maior necessidade de sono é uma característica de fêmeas em várias espécies, afirma John Araujo, médico da UFRN. "Porém as humanas sofrem ainda com a dupla jornada. Assim, quem mais precisa dormir é quem passa mais tempo em atividade."

Helena Hachul, responsável por sono feminino nos departamentos de ginecologia e psicobiologia da Unifesp, diz que as queixas têm piorado com as conquistas graduais.

"Elas buscam mais educação, trabalham e se tornam independentes financeiramente." Essa alteração parcial do estilo de vida traz uma sobrecarga e aumenta a vulnerabilidade a fatores estressantes.

"A mulher vive em privação de sono, e, no pouco tempo que tem para dormir, fica preocupada com tudo que tem para fazer e acaba tendo insônia."

Segundo Hachul, a insônia afeta cerca de 30% das mulheres e até 60% delas na pós-menopausa. Um dos principais motivos são as ondas de calor, afirma o ginecologista César Fernandes, presidente da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).

Além de perder estrogênio, a mulher mais velha perde progesterona, hormônio importante para as funções respiratórias, relata Hachul. Essa queda, associada ao aumento de peso, leva a casos mais frequentes de apneia (suspensão da respiração).

O sono fica fragmentado e a mulher passa o dia sonolenta, cansada e com perda de memória. "Em nosso estudos, 50% das mulheres com queixa de insônia apresentam na realidade distúrbio respiratório de sono."

Hachul diz que, se isso não for investigado, leva a tratamento inadequados. "Muitos médicos prescrevem benzodiazepínicos, para insônia. Mas, se a paciente tem apneia, pode haver piora, pois esses medicamentos promovem o relaxamento muscular."

Os especialistas recomendam que, independentemente da idade, se a paciente tiver dificuldades para adormecer ou manter o sono, ou notar que sua noite não é restauradora e isso lhe traz repercussões no dia a dia, deve procurar avaliação médica.

Fernandes aponta que as noites mal dormidas têm efeito na saúde de forma geral, e há pacientes que acabam não se queixando por considerar que ele é inerente à fase da vida em que estão.

Os médicos afirmam, porém, que insônia não é o único distúrbio de sono, e que homens costumam sofrer com apneia, cujos efeitos se manifestam ao longo do dia e não são diretamente identificados como sono ruim.
adolescentes

As aulas para adolescentes dos 13 aos 17 anos deveriam começar a partir das 8h30, defende a Associação Brasileira do Sono.

A entidade ressalta que o sono é essencial para a aprendizagem, e que jovens dessa faixa precisam de 8 a 10 horas de sono diário e têm mais dificuldade de antecipar o horário do início do sono.

Segundo a associação, a mudança de horário em países como EUA e Inglaterra melhoraram os resultados escolares e o estado emocional dos alunos.

O lançamento do manifesto faz parte das atividades da Semana do Sono.

O dia mundial do sono, nesta sexta (16), tem como foco o Nobel de Medicina de 2017, que premiou pesquisa sobre o controle dos ritmos biológicos, entre eles o ciclo sono-vigília.

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