Guido Mantega dirá a Lula que inflação é causada por fatores externos
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, deverá reforçar nesta segunda-feira(09) na reunião ministerial com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a avaliação de que o surto inflacionário no Brasil decorre essencialmente de fatores externos, como a alta global dos preços dos alimentos e da disparada das cotações do petróleo, informaram fontes do governo ao Grupo Estado.
No encontro com todos os ministros do governo Lula, que contará ainda com a participação do presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, Mantega pretende mostrar que o governo já fez o que podia para evitar que os choques externos, que foram mais fortes do que esperava a equipe econômica, não se espalhem por outros setores, levando ao descontrole da inflação e a elevações mais drásticas de juros.
Essas medidas seriam a alta no IOF para o crédito, o aumento do superávit primário e a própria alta no juro básico, além de desonerações setoriais. Na visão da Fazenda, tais medidas levam um tempo para surtir efeito, mas já há sinais de que a economia estaria iniciando sua acomodação, de modo a evitar a propagação dos choques.
"Já tomamos medidas poderosas e agora temos que esperar para ver seus resultados. Ainda devemos ter alguns números ruins de inflação, mas a hora é de ter calma para não tomar medidas de afogadilho que levem a uma perda de dinamismo econômico", disse uma fonte.
Guido Mantega tem, em praticamente todas as suas apresentações públicas, procurado deixar claro que não vê a alta da inflação originada da atividade econômica aquecida. O diagnóstico diverge do manifestado pelo Banco Central que demonstra clara preocupação com o "descompasso entre oferta e demanda" na economia.
A grande preocupação da Fazenda é que o ciclo de alta nos juros iniciado em abril pelo BC não ocorra em um nível que comprometa o ritmo dos investimentos e da atividade econômica interna. Mantega reconhece que a economia não pode crescer muito mais do que 5% sem ter problemas, mas também não quer ver se repetir o cenário de 2004, quando a ação preventiva do BC levou a uma queda forte nos investimentos e no crescimento.
Os ministros da Agricultura, Reinhold Stephanes, e do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, devem aprofundar a análise sobre o comportamento dos preços dos alimentos. O governo entende que pouco pode fazer no curto prazo sobre isso, já que os estoques federais são reduzidos e o espaço para desonerações, como as feitas para o trigo e o pão francês, menor ainda. A aposta é mais de longo prazo, por meio de estímulos à ampliação da oferta de produtos. Fonte: Agência Estado