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O fantasma do afastamento por lesão

“Eu me sinto inútil e descriminado”. Esse é o desabafo de um metalúrgico, de 37 anos, pai e chefe de família, afastado do trabalho desde novembro de 2004. Ele que preferiu não se identificar é funcionário de uma grande indústria automotiva na Grande Curitiba. Na fábrica, o ritmo de trabalho era intenso, assim como a pressão. O posto que ocupava e a tarefa que exercia eram desgastantes demais. Resultado dessa somatória foi a doença ocupacional que o acometeu. Na equipe dele, de 12 pessoas, a maioria dos trabalhadores também se afastou e hoje passa pelos mesmos dramas. “Tem muitos colegas com problemas de saúde, decorrentes do trabalho. Uns se afastam e outros trabalham, mesmo doentes, por medo de demissão. O problema existe, é real e grave, mas parece que ninguém vê.”

A função do metalúrgico, durante mais de um ano, era “colocar buchas nas guias traseiras do carro”. “Tinha uma máquina para isso, mas não funcionava. Fazíamos esse serviço com a mão”, relata. As dores apareceram em 2003. “Comecei a sentir choques e dormência na mão. Procurei o médico da empresa e ele dava remédio para dor ou injeção e mandava retornar ao trabalho. Trabalhei até onde pude. Até não agüentar”. Ele já fez cirurgia e, no final de 2004, afastou-se. “Tranquei minha faculdade, pois perdi a força, a sensibilidade e o equilíbrio do braço esquerdo. Isso refletiu também na minha vida familiar. Faço tratamento psicológico, psiquiátrico e tomo remédio para depressão. Minha saúde está acabada e estou sem sonhos e perspectivas”, lamenta.

Apoio ele diz que não recebia nem enquanto estava ativo. “Nem luvas eles queriam dar. Apesar de terem uma sala toda equipada de fisioterapia, eles não liberam os funcionários para fazer para não perder tempo. Às vezes, não permitem nem que paremos para ir ao banheiro. Eles só querem saber da produção”, comenta. Em agosto, ele passará por nova perícia, mas já adianta que não se sente apto a voltar ao trabalho, nem físico nem mentalmente. “Acho que caberia aos órgãos competentes fazerem com que a empresa cumprisse o que determina as leis. Não é possível que eles permitam que uma empresa com três mil funcionários diretos tenha tantos lesionados”, clama.

Fiscalização

De acordo com o superintendente substituto da Delegacia Regional do Trabalho (DRT) do Paraná, Sérgio de Barros, as leis de fato existem. “São 33 normas federais que tratam da segurança e saúde no trabalho”, comenta. Segundo ele, também há profissionais e fiscalização. “No Paraná são 150 auditores, 30 especializados em segurança e saúde. Temos fiscalizado e autuado bastante”, diz. No entanto, o número de profissionais é insuficiente e, por isso, não há como fiscalizar todas as empresas. O que, como explica Barros, a DRT faz, então, é trabalhar em cima de metas sobre os setores de mais riscos como construção, madeireiro, químico, hospitalar e agrícola. Uma maneira de amenizar essas carências é o empregado denunciar. “Recebemos denúncia pelos telefones 3219-7721 ou 3219-7722”, orienta.


Pouco investimento e pouca fiscalização

O fisioterapeuta Alison Klein, especializado na implantação de programas de saúde do trabalhador, acredita que as empresas investem cada vez mais em prevenção. No entanto, os investimentos ainda são menores que o necessário. De acordo com ele, o que se vê, atualmente, é uma atitude ainda muito reativa por parte dos empresários. “Eles apenas fazem o que os fiscais pedem, quando fazem a fiscalização”, afirma. O profissional diz que o cuidado com a saúde do trabalhador é responsabilidade da empresa. Porém, sugere que o trabalhador também se preocupe com sua própria saúde.

Klein explica que nos últimos 20 anos o perfil das doenças no trabalho mudou. “Antes mais comuns eram os acidentes as fraturas, quedas. Hoje, porém, as doenças mais comuns são as relacionadas à fadiga, dores do trabalho. Principalmente nos trabalhos administrativos, nos quais as pessoas são expostas à sobrecarga, aliada à inatividade física, a posturas estáticas”, afirma.

As maneiras de combater essas doenças são ginástica laboral e avaliação, com mudanças, nos postos de trabalho. “Nenhuma empresa vai ter sucesso se não mexer no posto de trabalho. Não digo apenas no mobiliário, mas também no ritmo e volume de trabalho”, completa.

Risco em todas as áreas

Segundo a médica perita do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) no Paraná, Tânia Fiedler, as doenças mais comuns, como causas de afastamento, geralmente bastante longos, são depressão e as doenças músculo-esqueléticas (Dorts). Ela revela que, de janeiro a dezembro de 2007, dos 44.890 benefícios concedidos pelo órgão em Curitiba, 6.041 foram auxílios acidente de trabalho, o que inclui doenças ocupacionais.

Para o também médico da área Ruddy Facci, todos os trabalhos têm riscos. Estes, segundo ele, variam de acordo com a atividade. “Como profissionais da área nos cabe identificar o problema e orientar a empresa sobre o que deve ser feito para eliminar esses riscos”, afirma. Ele acredita que ao tratar de doenças ocupacionais não se pode “colocar tudo no mesmo balaio e tratar com um padrão, geral”.

O médico sugere a adequação da legislação è realidade local e atual; fiscalização; conscientização dos empresário e trabalhadores; e profissionais de saúde atualizados.

Fonte: Paraná Online

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