Crise explode e chamusca o Brasil
A crise mundial abriu um rombo nas bolsas de todo mundo ontem, depois que o Congresso americano decidiu não aprovar o pacote de US$ 700 bilhões para salvar o mercado financeiro. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) entrou em transe de 10% de baixa acelerada por volta de 15h, quando, desesperadamente, o pregão foi fechado, devido a alucinação dos mercados. Por volta de 16h, o pregão foi reaberto e o gosto amargo da retomada refletiu uma queda ainda maior, 13,82%, fechando o dia em 9,36%. Diante dos primeiros estragos da queda das bolsas, especialistas no Brasil calculam que a velocidade da economia no País irá diminuir, porém o Brasil deve faturar com a produção de grãos para o mundo.
''O Brasil não sofrerá diretamente com a crise''. A afirmação é do professor de Economia, Miguel Arturo, da Universidade Estadual de Londrina. Mas o especialista avisa que a crise financeira vai se prolongar pelos próximos cinco anos, até que os governos de outros países descubram o tamanho do rombo da dívida hipotecária americana. ''Nosso país têm bancos sólidos, companhias sólidas (petrolíferas, aço entre outros) e o agribusiness brasileiro será beneficiado com esta crise mundial'', preconiza o estudioso.
Ele prevê que o Brasil não crescerá mais que 3% ao ano daqui por diante, ao contrário dos 5% previsto pelo governo para este ano. Em face disso, o Governo Federal terá que cortar custos, diminuindo o tamanho do Estado. Arturo explica que será urgente uma Reforma Tributária, diminuindo os impostos sobre as empresas, para que elas se capitalizem, já que não haverá crédito fácil no mercado interno e externo para fazer novos investimentos nos diversos setores da economia brasileira.
Além da questão interna, o economista avalia que o governo terá que fazer a reforma trabalhista para atrair investidores de fora. Mesmo com estas medidas, o aprofundamento nos cortes públicos, segundo ele, terá que se dar em duas frentes. O governo terá que cortar no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), devido boa parte destes recursos serem de países de fora, sendo calculados em dólar, onerando, portanto, ainda mais o custo destes empréstimos. ''O governo sempre cortou nos investimentos, agora estimo que cortará também no funcionalismo'', prevê. Mas além disso, Arturo calcula que programas sociais também sofrerão uma retração, devido o aprofundamento da crise.
A inflação deve retornar, segundo o estudioso, pois o governo não poderá usar mais como estratégia o aumento da taxa de juros. ''As empresas precisam de capital para tocar seus negócios, pagando juros altos como vão investir'', indaga. Os salários também sofreram um reajuste, com as empresas contratando e recontrando em bases salariais menores.
Ele prevê que bancos serão nacionalizados no mundo todo, evitando uma quebradeira injustificada das economias destes países. ''O Congresso americano não aceitou neste momento aprovar o empréstimo porque eles (deputados) não sabem o tamanho da crise'', informa. Arturo lembra que os títulos podres hipotecários foram comprados no mundo todo, por especuladores. ''Era uma jogatina, pois atrás destes títulos existia só fumaça, e não empresas sólidas'' declara, ao comparar com o Brasil, que possui bancos, Petrobras e empresas que são sólidas no mercado financeiro.
A FOLHA tentou repercutir a crise com a Fiep e a Ocepar que preferiram analisar melhor os reflexos. Já a Faep não retornou as ligações.
Fonte: Folha de Londrina