Trabalho escravo persiste no Paraná
O número de trabalhadores libertados que estavam em situação de escravidão cresceu 200% no Paraná no ano passado. A constatação é da Comissão Pastoral da Terra (CPT) Regional Paraná, que divulgou o Relatório de Conflitos no Campo, ontem.
De acordo com o relatório, 391 pessoas foram libertadas nessa situação em 2008, contra 130 no ano anterior, colocando o Estado em 5.º lugar no ranking de trabalhadores libertos.
No entanto, o número de casos de trabalho escravo flagrados no Paraná também aumentou de 2007 para 2008. Enquanto em 2007 foram registrados cinco casos no Estado, no ano passado foram 13.
Para o representante estadual da Comissão Pastoral da Terra, Rogério Nunes da Silva, o grande aumento no trabalho escravo no Paraná pode ser explicado pela expansão do agronegócio da cana e da celulose. Ele afirmou que a fiscalização tem se intensificado nos últimos anos, mas ainda é insuficiente.
“O aumento na fiscalização é mais fruto da manifestação da sociedade do que da ação governamental mesmo. Hoje existe uma pressão internacional para o desenvolvimento da energia a partir da cana, mas é preciso olhar o que está por trás disso”, criticou.
O presidente nacional da CPT, dom Ladislau Biernaski, que veio a Curitiba, ontem, para participar da divulgação dos dados do relatório, disse que o fato de o país estar destinando mais terras para produtos que possam desenvolver biocombustível, em detrimento à plantação de alimentos, faz com que aumente o trabalho escravo e também a superexploração.
“Claro que se esse tipo de energia é menos poluente e deve ser investido nela, mas não tem como pensar nisso sem haver superexploração do trabalho e também da terra”, afirmou.
O relatório também aponta que no ano passado foram registrados 54 conflitos no campo no Estado, contra 89 em 2007. Os números de 2008 fazem do Paraná o 7.º em conflitos no campo.
Os dados de 2008 revelam ainda que as milícias armadas escondidas sob a fachada de empresas de segurança continuam a atuar livremente no Paraná. No ano passado 855 famílias foram ameaçadas e intimidadas pelos grupos armados a serviço do latifúndio. Estes dados fazem do Paraná o 3.º no número de famílias violentadas pelas mílicias armadas.
“O que preocupa é o fato de que as organizações de direitos humanos já tinham conhecimento dessas milícias, mas nada foi feito. Acredito que a atuação do poder público é lenta nesses casos”, afirmou Silva.
As tentativas de assassinato também aumentaram, segundo a CPT: foram seis casos no ano passado, contra cinco em 2007. “A lutas não vão acabar enquanto quem precisa trabalhar na terra não tiver acesso a ela. Estão dizendo que reforma agrária é coisa do passado, mas não é não”, observou dom Ladislau. A Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep) foi procurada pela reportagem, mas não se manifestou sobre o relatório.
Fonte: Paraná Online