Zuher Handar, “Pensávamos que o mundo iria parar por pouco tempo em 2020 mas já se foi 1 ano e mais de 300 mil mortes”
Na pandemia iniciada em 2020, todos verbalizavam a grande frase de esperança: “VAI PASSAR LOGO”.
No dia 31 de dezembro de 2019, a OMS recebeu o alerta de uma nova doença na China que se instalava de forma epidêmica no interior. Os doentes evoluíam com febre, tosse, indisposição e, o mais grave, falta de ar.
Um vírus novo surgia na humanidade e o mundo ainda não sabia, mas uma nova epidemia já caminhava a passos largos.
Semelhante ao que ocorreu com as epidemias do passado, os órgãos de governos menosprezavam a sua gravidade e negavam os primeiros casos que acabavam sendo abafados e até mesmo negados com intuito de manter a população calma e a economia, como comercio e outros setores em atividade, enquanto se ganhava tempo para contornar o problema.
O inimigo desta vez foi identificado como um novo coronavírus, batizado nos meses seguintes de SARSCoV- 2 e sua a doença de COVID-19.
Em janeiro daquele 2020, o vírus se disseminava pelas cidades chinesas e ultrapassava fronteiras e era transmitido por gotículas eliminadas na fala, no espirro e na tosse. Neste mesmo mês a Organização Mundial da Saúde declarou a COVID-19 uma emergência de saúde pública internacional e a preocupação era grande, pois dificilmente conseguiríamos controlar esta nova pandemia que tinha o virus SARS-CoV-2 transmitido por uma pessoa saudável mesmo antes de iniciarem os sintomas o que demostrava o virus ser altamente contagioso.
Diante da gravidade dos casos era necessário que os doentes recebessem assistência em UTI, pois o quadro respiratório era muito comprometedor e observou naquele momento que nenhum país estava preparado para a quantidade súbita deste tipo de atendimento especializado com ventiladores mecânicos.
Houve necessidades de se tomar medidas preventivas imediatas e, como não tínhamos vacinas até aquele momento, medidas mais drásticas eram necessárias. Muitos que resistiram distanciamento social mais severo com o fechamento do comércio se rendiam pelo avanço do número de mortes. A partir deste momento, devido ao aumento mortalidade, outras medidas deveriam ser tomadas como o lockdown de cidades e países, pois havia o risco de colapso do sistema hospitalar pela falta de leitos em UTI. As medidas preventivas deveriam continuar sendo aplicas como a lavagem das mãos, álcool em gel, isolamento social, uso máscaras cirúrgicas etc..
Considerando que o colapso do sistema de saúde seguia a epidemia tornava-se evidente que a melhor maneira de conter o agravamento da situação era determinar o isolamento social precoce, logo após detectar os primeiros casos da doença. Ou fazemos um lockdown verdadeiro onde se limita a circulação de pessoas para não ocorra a aglomeração nos transportes coletivo ou perderemos a guerra para o vírus. Não temos outra opção senão sacrificar o comércio e economia para evitar o colapso do sistema de saúde e o número de mortes.
Vários paises e cidades como Nova York aprendeu isso a duras penas.
Conforme vários relatos a única maneira de conter o avanço viral era o fechamento do comércio, o isolamento social, e, em último caso, o lockdown. Tratava-se de uma epidemia única na história da humanidade.
No Brasil e no Paraná já tentamos todas as alternativas e continuamos com os casos em alta e a mortalidade também crescendo. A população mesmo cansada já esta vendo que a única maneira de pararmos as mortes é realmente pararmos tudo. Hoje já cresce o numero de pessoas que apoiam a ideia de fazermos um lockdown no Estado do Paraná. Já temos inúmeros setores e seguimentos de profissionais que cobram medidas mais organizadas e mais articuladas para possamos contar esta grave situação. Hoje temos setores de empresários que já pensam que o lockdown pode ser a saída.
É importante entendermos que uma epidemia termina quando o vírus não encontra mais pessoas suscetíveis, ou seja, quando encontra apenas pessoas que já se infectaram e desenvolveram anticorpos. Isso quando não há vacinas.
Apesar disso, não precisamos de 100% da população já imune para o término do surto, basta uma porcentagem da população. Mas o que define essa porcentagem necessária? Aqui entra o R0, número básico de reprodução.
O R0 é o número de pessoas que serão infectadas por um doente. Por exemplo, o R0 do sarampo é próximo de 20. Significa que um paciente com sarampo infectaria outras 20 pessoas se não tivéssemos a vacina. Por isso, o sarampo é a doença mais contagiosa que temos.Isso significa que precisamos de 95% da população com anticorpos contra o sarampo, produzidos pela doença ou vacina, para não termos casos no Brasil. Por isso, as campanhas do Ministério da Saúde para vacinamos mais de 95% das crianças.
Para COVID-19 Será necessário, na ausência de vacina, cerca de 66% da população brasileira infectada para o término da epidemia.
Isso conseguiríamos se deixássemos a epidemia transcorrer sem medidas de controle, mas tivemos que utilizar as medidas de fechamento do comércio e distanciamento social para evitar o pico muito rápido e muitas mortes. Alteramos a história natural da epidemia.
Conclusão: após 3 meses de epidemia, não havíamos chegado nem a 10% de infectados, muito longe dos 66% necessários.
Talvez por isso, não atinjamos o tão sonhado pico, mas sim um platô de novos casos com períodos de fechamento do comércio intermitentes. Haverá flexibilização do comércio e monitoramento das internações e leitos vagos em UTI. Conforme os casos aumentem, novamente o comércio será fechado para contenção da epidemia. Situação controlada e nova flexibilização, e assim por diante no aguardo da vacina de mais vacinas.
Hoje o que mais nos importaria seria fazermos todas as medidas de distanciamento e até mesmo de medidas drásticas de distanciamento associado a uma vacinação em massa e, isto não esta acontecendo. Estamos tendo somente promessas e cada vez atrasa o calendário de planejamento,
O que nos salvará nesse momento é deixarmos todos em casa e garantirmos uma quantidade de vacinação suficiente para que possamos atingir a população priorizada.
Dro Zuher Handar, Médico do trabalho e Assessor do SMC
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