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Racismo estrutural, a herança dos quase 4 séculos de escravidão que reflete no mercado de trabalho

O mercado de trabalho ainda carrega os reflexos de um dos períodos mais tenebrosos da humanidade. Nesta matéria o diretor do SMC e membro do COMPER, Pedro Paulo da Silva analisa o assunto tão presente nos dias atuais

Com aproximadamente 388 anos de escravatura, pode-se dizer que grande parte da sociedade brasileira ainda possui traços daquele período. O sentimento de ser melhor por ser de outra cor não é o único problema dessa herança, a desigualdade social contribui muito para a marginalização do negro. “Desafio alguém no Brasil a conseguir me provar que tem um negro no país que possui monopólio de bens e várias terras”, diz Pedro Paulo da Silva, o Pepê, diretor do SMC e membro do Conselho Municipal de Política Étnico Racial de Curitiba (COMPER).

Pedro Paulo da Silva, diretor do SMC e membro do Conselho Municipal de Política Étnico Racial de Curitiba (COMPER).

Uma pesquisa recente do IBGE mostra que, em 2021, considerando-se a linha de pobreza monetária proposta pelo Banco Mundial, a proporção de pessoas pobres no país era de 18,6% entre os brancos e 72,9 % entre pretos e pardos. Os dados são do estudo “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil”. Essa desigualdade entre brancos e negros é fruto de quase 4 décadas de escravidão, um fato lamentável da história do Brasil.

Durante esse período, negros não tinham a oportunidade de estudar e trabalhavam sem nenhuma remuneração. Além disso, não podiam ter casa própria e mesmo que ganhassem uma, não conseguiam registrar posse pois quem determinava o que um escravo poderia ter ou não era seu dono.

Em 18 de maio de 1888 foi sancionada a abolição da escravatura no Brasil, porém, mesmo com a abolição da escravidão, a desigualdade entre brancos e negros continuou devido ao controle dos postos de trabalho que permaneceram sobre a posse dos brancos, em sua maioria, nas mãos de famílias que eram donas de várias terras e escravos. Durante esse período a economia era movida pela extração de ouro e pedras preciosas, cana-de-açúcar, criação de gado e plantação de café.

Após a abolição da escravatura, os negros finalmente estavam livres, sem um dono, mas precisavam trabalhar para sobreviver. Por conta da falta de oportunidades, de estudos e do racismo já presente, muitos negros continuaram trabalhando para seus antigos donos.  Também não tinham acesso à qualificação necessária para realizar outros serviços, que por muito tempo, foram serviços apenas para os brancos. Seus antigos donos sabendo desse quadro, ofereciam pequenas quantias pela sua mão de obra, e,  pela falta de opções acabavam aceitando as condições impostas.

 

Reflexo no mercado de trabalho

A falta de oportunidades para trabalhar, em vários setores, é uma realidade ainda presente. Segundo o levantamento feito pela Vagas.com, empresa de soluções tecnológicas de recrutamento e seleção, os trabalhadores negros têm participação reduzida em cargos de média ou alta gestão. De acordo com o último levantamento, a maioria dos pretos e pardos ocupam 47,6% das posições operacionais e apenas 11,4% das técnicas, percentuais superiores aos relatados por brancos, indígenas e amarelos. Já uma minoria entre os negros relata ocupar cargos de diretoria, supervisão/coordenação e de senioridade, de alta e média gestão. Apenas 0,7% têm cargos de diretoria.

O diretor do SMC, Pedro Paulo da Silva, afirma que, durante 27 anos de trabalho, quando ocupou um cargo na área gerencial administrativa da empresa, só havia ele de negro em uma equipe de 12 pessoas, enquanto em outras áreas, grande parte de seus colegas eram negros. “Por mais incrível que pareça, na área administrativa da empresa, de negro só tinha eu, mas em compensação na faxina, nos tanques de areação, nos fornos de cozimento, setor de pintura, tinha bastante negro”, lembra Pepê.

Até hoje a luta para inclusão do negro em melhores cargos, salários e condições de trabalho continua. Os patrões, apesar de não serem mais escravistas, ainda visam apenas o lucro e por conta do grande número de desemprego no país, muitos trabalhadores acabam aceitando as condições muitas vezes absurdas dos empregadores.

Muitos, por medo de serem demitidos ou perseguidos dentro da empresa, não denunciam os crimes de racismo e injúria racial que sofrem no exercício de trabalho e quando denunciam para seus superiores, nada é feito de significativo para punir os agressores. Pode-se dizer que um dos fatores que contribuim para esse quadro é a falta de pessoas negras nesta área, que tenham autonomia para falar, agir e tomar a melhor decisão. Afinal, quem seria a pessoa mais recomendada para tratar do assunto, se não um negro que sabe o impacto dessas agressões?

 

Com racismo não tem jogo e nem acordo! Denuncie!

Após o caso escandaloso de racismo contra o jogador do Real Madrid, Vinícius JR, o SMC intensificou a luta contra o racismo com a campanha “Com racismo não tem jogo e nem acordo!”. O objetivo é receber e dar o devido encaminhamento às denúncias que se encaixam nos casos de racismo e injúria racial e também assédio moral, sexual, importunação sexual, ocorridos no ambiente de trabalho.

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